sexta-feira, 15 de junho de 2012

Os Riscos dos Quadriciclos no Turismo Baiano

Turismo de aventura é um segmento do turismo que possui uma característica peculiar, é a atividade turística que se destaca pela presença de um elemento fundamental, o risco.

A grande maioria dos clientes dos passeios envolvendo aventuras desejam programas onde a emoção e os riscos estejam inclusos no pacote, porém isso não significa que os participantes estão pagando para sofrer algum tipo de acidente. Ai é que mora o perigo, o cliente quer aventura, mas não quer, nem deve sofrer danos. Por outro lado, a agência não pode vender seus passeios com a promessa de que a atividade é 100% segura. Nenhuma prática esportiva é 100% segura, até futebol envolve riscos. O que ocorre é que no turismo de aventura, o risco, elemento inerente à atividade, deve ser devidamente minimizado.

Na Bahia o turismo de aventura vive um momento delicado, o risco aumenta a cada dia, algumas atividades consideradas turismo de aventura estão sendo oferecidas sem os cuidados com o elemento risco.

No Brasil estamos testemunhando os casos de acidentes que envolvem o uso inadequado de equipamentos em diversas modalidades de aventura, sejam nas práticas esportivas ou nas operações turísticas, alguns desses equipamentos, principalmente veículos automotores, estão sendo confundidos com brinquedos. Casos de negligência, imprudência e imperícia estão gerando aumento dos acidentes e fatalidades. Recentemente presenciamos nos noticiários os acidentes com as motos aquáticas (popularmente e erroneamente chamados de Jet Sky). O mesmo tende a acontecer com os quadriciclos, bastante confundidos com brinquedos, andam nas mãos de crianças e em todo o tipo de uso inadequado pelos destinos turísticos da Bahia.

As atividades com quadriciclos se caracterizam basicamente pelo uso esportivo, recreacional e o turístico. No esportivo consideramos a prática por indivíduos ou grupos que utilizam os quadriciclos para competições e desportos, em passeios, trilhas ou aventuras sem necessariamente fazer uso de guias especializados ou de algum pacote turístico. Esses praticantes são autônomos ou organizados em grupos independentes que realizam a prática esporádica ou regular.

O uso recreacional se desenvolve nos condomínios, praias, praças e normalmente é feito sem critério algum de segurança e mínimo uso dos equipamentos obrigatórios.

Já o turismo de aventura é uma atividade comercial onde o cliente contrata o serviço de uma empresa para a realização dos passeios, normalmente esses passeios são acompanhados por um guia e devem seguir normas e critérios específicos de segurança além de possuir formatação visando oferecer máximo de satisfação e mínimo risco.

Todas as formas de utilização dos quadriciclos podem e devem ser divertidas, seguras e sustentáveis. O  uso de quadriciclos em atividades de aventura é saudável, prefeitamente compatível com ambientes conservados desde que seguindo critérios específicos de segurança, ambientais e técnicos.

Acontece que a prática inadvertida ocorre em todas as formas de utilização dos quadriciclos, hoje em dia é fácil flagrar os absurdos cometidos. É comum ver crianças pilotando equipamentos com potência superior a permitida para a idade, praticantes conduzindo ou sendo transportados sem capacetes, excesso de passageiros, invasão de propriedades, degradação de áreas sensíveis e tráfego em vias públicas, dentre outras irregularidades.

O crescimento do uso indiscriminado provoca diversas consequências. Para o turismo, além do risco da perda irreparável de uma vida, existe a possibilidade do segmento turístico sofrer o mesmo estigma que os acidentes com motos aquáticas estão provocando. Graças a Deus ainda não tivemos nenhum caso fatal registrado, embora os relatos de acidentes sejam constantes. Outro fator que contribui negativamente é a banalização da atividade e a proliferação do mercado informal de aluguel desses veículos.

O que poderia ser um novo e promissor produto turístico está se revelando um negócio insustentável. Na Costa do Dendê, existe um destino turístico que a quantidade de quadriciclos para alugar é tão grande que o preço de venda caiu vertiginosamente, ou seja, maior oferta, menor preço, neste caso a consequência é econômica, má qualidade de serviço e alta depreciação dos equipamentos aumentando ainda mais o risco. Nesta localidade o poder público tenta regular a atividade, atualmente existe a exigência de uso de capacete, limitação de passageiros por veículo, proibição de percursos pela praia, etc. Apesar o esforço a situação ainda é delicada e a falta de organização local gera um descontentamento geral em toda cadeia do turismo.

Criança pilotando e praticantes sem capacetes
No litoral norte do estado apesar de alguns bons exemplos a situação também é grave. Temos alguns casos onde empresas oferecem passeios de forma organizada e segura, mas no geral o que tem ocorrido no litoral norte é uma proliferação desenfreada do uso incorreto de quadriciclos, isso certamente tem prejudicado o desenvolvimento da atividade turística responsável. A disseminação do uso recreativo e esportivo ocorre de forma inadequada e quase sempre sem respeito as normas de segurança. Em diversos pontos da Costa dos Coqueiros é possível presenciar os abusos e os riscos na prática com quadriciclos.
O turismo de aventura como segmento que evoluiu a partir dos esportes radicais é cada vez mais importante a priorização do item segurança, mas não é o que ocorre, principalmente pela pressão comercial. O interesse comercial e o modismo aventura tem gerado uma banalização da atividade com a proliferação do risco em toda parte. Seja em buffets infantis, parques ecológicos, escolas e no dia a dia, a sociedade está negligenciando a segurança em todos os aspectos, um exemplo corriqueiro é o uso de sandálias de dedo para a prática de atividades esportivas, uma mania nacional criada pela mídia que tem causado lesões diversas nos praticantes. Permitir que seus filhos andem de skate, bicicleta, etc, sem a devida proteção, é um erro! Bem, isso é pauta para outro texto. Voltemos para os quadriciclos.

Sou profissional do segmento do turismo de aventura, pratiquei, presenciei, pesquisei diversas práticas esportivas, erradas, certas, muito ou pouco arriscadas. O turismo de aventura na Bahia se enfraqueceu nos últimos anos. O incentivo ao segmento é pequeno e com relação aos esportes, tivemos poucos eventos e iniciativas pouco significantes para o setor. Para se ter uma idéia, praticamente não temos mais lojas especializadas no estado, um reflexo claro de que o segmento vai mal. Não se fala e não ocorrem mais grandes aventuras no estado, tampouco as atividades turísticas apresentam algo novo ou demonstram fluxo satisfatório. No caso específico das atividades com quadriciclos(sejam turísticas, esportivas ou recreativas) é a quase inexistência de lojas de equipamentos de segurança, afinal as pessoas não estão comprando equipamentos de segurança.


Um exemplo de que o capacete é imprescindível
 No caso dos quadriciclos é imprescindível que todos entendam que esse equipamento não é brinquedo de criança. No turismo de aventura temos a responsabilidade de cumprir os preceitos das atividades radicais, mesmo correndo o risco de perder um cliente ou outro. Tanto no turismo como na prática esportiva ou de lazer precisamos cobrar a prática segura das atividades envolvendo quadriciclos. É necessário que consigamos embutir as responsabilidades também para as empresas fabricantes, revendedores e demais integrantes da cadeia produtiva. O poder público, a sociedade e os empresários também podem atuar juntos. Podemos promover a devida orientação, o controle das atividades e efetivo cumprimento das normas de segurança. Os acidentes envolvendo quadriciclos estão acontecendo em diversas partes do estado e a prática indiscriminada aumenta a cada dia.